Sabia perfeitamente que não era a melhor noite para sair, para além das coisas que sempre fazia aos Sábados, o de hoje tinha sido deveras preenchido e a ideia de se arrastar para uma discoteca não era o final de dia que desejava. Mas as amigas já tinham tudo organizado e depois de ter voltado atrás duas vezes seguidas em saídas anteriores, pensou que desta vez tinha mesmo que ir.
A música não estava má, aliás a música estava aquilo que descreveria como “grande som” infelizmente não durou muito a sintonia entre as escolhas da D.J e as suas. Já se tinha arrependido de ter ido. Quando começava a pensar que estava melhor no conforto da sua casa percebeu que era só uma questão de tempo até ir-se embora mais cedo do que o normal. Para se entreter e matar o tempo até melhores músicas começou a observar as restantes pessoas na discoteca.
Por muito que observasse não tinha mudado nada nos hábitos das pessoas. Apesar de caras diferentes, apesar de serem outros os tempos, tudo se matinha igual como antigamente. A verdade é de que estava farta daquele ambiente, daquele meio. A eterna namorada que guarda a porta da casa de banho como se de uma fortaleza se tratasse e quando a sua dita sai – do cubículo do alivio -enche o peito de ar como se fosse um galo e pavoneia-se em redor dela como que dizendo “é minha”. Nunca iria entender tal atitude e passou a observar os casais de sempre na pista de dança alguns com química entre si, outros em jogos de dominação e submissão, e poucos onde cada uma se afundava nos olhos da outra.
Enquanto observava as errantes na noite viu uma predadora às 10 horas. Tudo em si era atitude e confiança também. Olhava o mar de gente cara a cara à procura da sua presa para essa noite. Por momentos colocou-se ao lado da predadora, era o único local livre do bar. Conseguia sentir o olhar discreto de quem estando a seu lado, para a ver, não tinha outra solução se não colocar-se ligeiramente à sua frente e olhar por cima do ombro. Pensou em cruzar o olhar. Mas não. Não estava interessada em jogos de sedução fortuitos, já chegava desse tipo de encontros, mas as intenções da predadora eram claramente diferentes.
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Tem lume? – Perguntou-lhe a predadora
- Com certeza – respondeu sem grande simpatia acendendo o isqueiro
- Obrigada pelo lume e permita-me um comentário, tem umas mãos muito bonitas.
Sorriu a agradecer o elogio não sem antes pensar: “Que banal. Pedir lume como desculpa para iniciar conversação.”
Agora que estava de frente para a predadora conseguia ver que se tratava de uma mulher interessante. Solitária, mas interessante. Mas não o suficiente que a fizesse continuar qualquer tipo de conversa por isso agradeceu o comentário e continuo a dançar uma batida que não era a sua mas que servia para evitar conversas sem futuro.
Fazia uma hora que estava ali e parecia que já tinha passado toda a noite.
Era cedo, muito cedo, mas para ela era o fim da noite.