Quase que choro de felicidade.
È quase impossível conter todo este estado de bem-estar extremo e todas as emoções que lhe precederam. Inesperadamente - e até que enfim – nós duas estamos no mesmo espaço… Apanhou-me mesmo de surpresa, vê-la ali no último local possível entre outros mais prováveis. Agradeci o encontro. Ainda nervosa por ter sido apanhada de surpresa, ainda sem saber o que iria acontecer, ainda sem ter tido tempo para reagir, ainda assim … agradeci. Apesar de não fazer ideia de qual seria o resultado do encontro, seria um bom resultado. Mesmo que me fizesse sofrer, mesmo que me fizesse voltar ao vazio ou até mesmo à Psicoterapia, mesmo isso … seria bom. Seria que teria que voltar atrás para sarar o que ainda não estava sarado e eu a pensar que sim.
Vi-a sem tormentos.
Observei-a sem raiva.
Contemplei-a sem desejo.
Analisei a pessoa com quem estava sem ciúme.
No fim, senti-me estupidamente feliz.
Se a ressaca do amor tivesse medalhas por etapas ultrapassadas, hoje sem dúvida merecia a de Ouro. È um alivio sentir que não estava errada quando me sentia curada deste amor. Foi como se o nevoeiro pesado tivesse desaparecido, o vento agora era poderoso e o mar mais infinito. Saber que posso passar por ela sem vacilar, sem que os olhos se encham de lágrimas, sem que o coração dispare de dor, sem lamentar beijos perdidos.
Agora sim sinto-me livre…
Livre para amar.
No caminho de regresso analisei cada momento do que se tinha passado, cada emoção minha, por cada vez que passei junto da mesa dela, por cada vez que olhei para ela, por cada vez que a senti a olhar-me e perceber que de facto já tinha arrumado aquele amor dentro de mim, estava resolvido e eu senti-me disponível para amar de novo. Não seria justo começar algo novo com alguém e ter situações mal resolvidas. Não seria justo nem para mim, nem para essa pessoa.
A minha vida tem tanto de dramático como de poético. Ao sentir-me realmente pronta para a vida, não pode deixar de reparar que estamos no fim de semana onde durante o qual os cristãos celebram a ressurreição de Cristo e pela segunda vez também eu tenho algo para celebrar. Estávamos na Páscoa de 1997 quando me assumi para mim própria. Mais tarde viria a dizer que nessa Páscoa celebrei a minha própria ressurreição e nesta celebro a mesma coisa. Para alguém a quem destruíram o coração, roubaram sonhos, que despiu-se de tudo em que acreditava e que aparece de novo pronta para tudo, creio que é de celebrar.
E agora é uma boa altura para cortar a franja e deixar de esconder os olhos!